sexta-feira, 5 de junho de 2009

Soneto do Amor

Soneto do amor
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem-querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade;
É servir, a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode o seu favo
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor?
Luis de Camões